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Trégua na guerra comercial entre EUA e China deve ajudar o Brasil
Trégua na guerra comercial entre EUA e China deve ajudar o Brasil

Embora a disputa aberta entre os Estados Unidos e a China tenha gerado oportunidades imediatas para o agronegócio do Brasil, especialistas veem acordo como melhor caminho

10/12/2018

São Paulo – A sinalização de trégua na guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, anunciada pelos presidentes Donald Trump e Xi Jinping, foi bem recebida por grande parte do setor produtivo brasileiro. Embora a disputa entre as duas maiores economias do mundo tenha aberto caminho para o aumento das exportações brasileiras num primeiro momento, principalmente de soja e de algodão, a bandeira branca tende a ajudar a aumentar o valor das commodities (produtos agrícolas e minerais cotados no mercado internacional) no médio prazo, segundo especialistas.

“A disputa de forças entre eles não beneficia a economia mundial porque cria ambiente de turbulências e incertezas no comércio internacional”, afirma o economista Álvaro Marcondes, especialista em relações internacionais e economia asiática na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP). “Para as empresas brasileiras, a paz entre chineses e americanos é o que melhor pode acontecer do ponto de vista da sustentabilidade das exportações nos próximos anos, já que a calmaria tende a elevar o preço das cotações internacionais por meio do aumento do consumo.”

O presidente americano se comprometeu a não elevar mais de 10% para 25% a tarifa de importação sobre US$ 200 bilhões de produtos feitos na China. Por reciprocidade, os chineses suspenderam a ameaça de sobretaxar US$ 100 bilhões em produtos dos Estados Unidos. Eles também concordaram em buscar acordo comercial mais ambicioso e equilibrado nos próximos três meses, algo que terá efeito também sobre as empresas brasileiras.

Pelas contas da equipe do Ministério da Fazenda, a batalha entre eles geraria ganho de US$ 2 bilhões às exportações nacionais, cifra pouco relevante do ponto de vista do total das exportações brasileiras, de US$ 169 bilhões no acumulado do ano até outubro. Em recente entrevista, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, afirmou: “Independentemente de qualquer ganho de curto prazo, o movimento de guerra comercial é negativo, tira dinamismo da economia internacional e afeta crescimento. Por isso, é tudo o que nós não queremos.”


Na visão de José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), os efeitos colaterais da guerra comercial entre a China e os Estados Unidos são indiretos, e não podem ser calculados em curto prazo. Para ele, a equação é simples: mais turbulência, menos crescimento e menos consumo. “A economia vai desacelerar, os preços das commodities, que são 65% de tudo que o Brasil exporta, vão cair, gerando um efeito negativo lá na frente”, diz Castro. “Os eventuais ganhos são, sem dúvida, transitórios e temporários.”

Futuro incerto

No entanto, existe uma preocupação crescente com a indefinição do futuro comercial entre a China e os EUA. Para Marcos Jank, presidente da Aliança Agro Ásia-Brasil, entidade criada no ano passado para promover o agronegócio brasileiro na Ásia, o prolongamento do confronto poderia acabar em acordo prejudicial às exportações do agronegócio brasileiro para a China. “Washington e Pequim estão medindo forças e um entendimento entre as partes envolverá o aumento das compras chinesas de produtos agroindustriais dos EUA, em detrimento de competidores diretos, como o Brasil”, disse ele, em encontro com empresários.


A preocupação se justifica. De acordo com pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a soja em grão teve a China como destino de quase 80% das vendas brasileiras entre janeiro e setembro deste ano. O país asiático importou, nesse período, 34% do total embarcado pelo agronegócio brasileiro. A definição de uma tarifa de 25% pelos chineses para a importação de soja americana impulsionou os embarques da soja brasileira neste ano, com recorde de 80 milhões de toneladas, segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). No ano passado, o Brasil embarcou 67 milhões de toneladas para clientes norte-americanos. “Se os dois países chegarem a um acordo definitivo, os embarques no ano que vem podem ter perda”, afirma o diretor da associação, Sérgio Mendes.

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