Investimentos de empresas de vários setores são retirados da gaveta no Sul de Minas e no Centro-Oeste do estado, em meio a uma lenta reação do país
29/01/2018Pouso Alegre e Extrema - O interior de Minas Gerais salvou em 2017 a produção, o emprego, as exportações e a arrecadação do principal tributo que alimenta os cofres do estado, o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS). O desempenho desses indicadores vitais da economia, embora ainda tímido, mostra que a retomada no estado passa por municípios de fora da Grande Belo Horizonte. Num 2017 marcado por mais demissões do que contratações no mercado formal no Brasil, Minas Gerais deu a volta por cima e conseguiu saldo positivo de 24.296 admissões, descontadas as dispensas, depois de dois anos (2016 e 2015) encerrados no vermelho.
Foi pelo interior afora que o emprego com carteira assinada se recuperou no ano passado, proporcionando diferença de 25.544 oportunidades abertas, já descontadas as demissões de 1.076.311 trabalhadores (as contratações somaram 1.101.855). Na direção oposta, a Região Metropolitana de BH sofreu com as 571.288 dispensas registradas no ano passado, que superaram as 570.040 vagas criadas pelas empresas na capital e entorno. Com isso, o saldo ficou negativo em 1.248 empregos. O maior desafio nessa reação mineira aparece hoje à frente da Grande BH, para retomar sua importância.
A força do interior vem das mãos de trabalhadores e da engrenagem de pequenas a grandes empresas de segmentos que vão da produção de alimentos à fabricação de roupas, calçados, eletroeletrônicos, e do comércio estimulado por essas atividades. Para entender como essa recuperação vem ocorrendo, o Estado de Minas percorreu algumas cidades que chamaram a atenção pela forte retomada desde o segundo semestre do ano passado e que começaram o ano com boas perspectivas de novos investimentos e criação de empregos. Esse é o tema da série de reportagens Retomada mineira, que mostra o mapa das contratações e as iniciativas das empresas para voltar a crescer em espécie de ilhas de prosperidade, em meio à lenta e difícil recuperação da economia.
No Sul de Minas, o reaquecimento do mercado de trabalho está sendo comemorado até por trabalhadores de estados vizinhos. A paulista Yuris Rodrigues, de 27 anos, conquistou uma vaga na fábrica de chocolate da Kopenhagem em setembro do ano passado e vive a expectativa de ser contratada depois do período de experiência. Há mais de um ano ela procurava uma oportunidade em várias cidades de São Paulo, quando escolheu Minas em busca de um ano mais estável profissionalmente.
“O mercado de trabalho ainda está difícil, com muita gente em busca de uma colocação. Mas as oportunidades estão aparecendo, principalmente aqui no Sul de Minas. Procurei emprego por mais de um ano e ouvi conhecidos falarem sobre grandes fábricas crescendo na região. Então tentamos as vagas aqui em Extrema e espero agarrar essa chance”, conta Yuris. Ela é uma das 350 funcionárias contratadas no fim do ano passado para reforçar a produção para a Páscoa deste ano.
Segundo o diretor industrial da Kopenhagem, Fernando Francalassi, a empresa pretende efetivar na fábrica de Extrema pelo menos 50 funcionários temporários até o fim de fevereiro, quando termina o período de produção para a Páscoa. “Passamos por um cenário de recuperação interessante e a Páscoa de 2018 será melhor do que a do ano passado. Trabalhamos com a perspectiva de aumento no número das lojas, cerca de 100 novas lojas no país até o final de 2018, sendo pelo menos 10 delas em Minas Gerais”, diz Francalassi.
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De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoins, Balas e Derivados (Abicab), o setor enfrentou queda de cerca de 20% no faturamento nos últimos anos, mas desde o ano passado registra leve recuperação. No entanto, algumas fábricas do Sul de Minas sofreram menos com a crise e já constatam recuperação mais rápida do que em outras regiões. “A proximidade com os principais mercados consumidores, a boa infraestrutura de logística e oferta de mão de obra com as grandes faculdades nas cidades da região ajudam no sucesso das fábricas do Sul de Minas. Com a retomada do consumo, a demanda aumenta e aquece a produção”, explica Francalassi.
Ritmo acelerado
Do saldo ainda parcial de 21.554 empregos formais abertos em Minas no ano passado pela indústria, – o setor mais duramente afetado pela crise brasileira –, 67%, ou seja, mais de dois terços, foram garantidos nas fábricas do Sul de Minas, Centro-Oeste e Alto Paranaíba. Nessas regiões, surgiram 14,5 mil vagas, descontadas as demissões, com base em estudo feito pela Gerência de Estudos Econômicos da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) a pedido do Estado de Minas.
A receita do ICMS proveniente da indústria, acompanhando a reação da produção, também desbancou o resultado na metrópole e seu entorno, onde cresceu 8,5%, para avançar 24% na Zona da Mata mineira,15,4% no Alto Paranaíba; 14,3% no Centro-Oeste e 12,4% no Sul do estado. Toda a receita arrecadada pelo setor no estado subiu 8,7% na média, tendo somado R$ 16,1 bilhões.
O crescimento das exportações, por sua vez, alcançou 73% no Triângulo Mineiro, 44,4% no Vale do Aço, e 35,4% no Centro-Oeste do estado, fazendo inveja ao aumento de 22% na Grande Belo Horizonte. As vendas externas de Minas avançaram 28%, em média, para US$ 17,539 bilhões, com base nas estatísticas mais recentes analisadas pela Fiemg de janeiro a setembro de 2017.